A produção visual de Lygia Pape na Piraquê no domínio dos atravessamentos entre arte e design
Convite para defesa da tese de André Antonio de Souza - 04 de abril de 2025, 10:30h.
Em 2009, a Piraquê deu início a um processo mais efetivo de alteração dos layouts das suas embalagens de biscoito, que haviam sido desenvolvidas por Lygia Pape (1927-2004). A inciativa não foi bem recebida por uma parcela do público. Acreditava-se que o projeto representaria o fim da propagação da linguagem visual aplicada pela artista nos invólucros, no entanto, anos mais tarde, a empresa foi adquirida pela M. Dias Branco, que desenvolveu uma coleção, transformando os layouts em roupas e acessórios para a divulgação da marca nas redes sociais, a partir da apropriação dos padrões das embalagens por artistas em seus figurinos. A despeito de todos os invólucros terem sofrido sucessivas alterações, o ressurgimento da obra, via iniciativas individuais ou institucionais, indica que a criação adquiriu uma notável condição de “permanência”. Assumindo como hipótese que o trabalho transcende a sua condição enquanto obra de programação visual, localizando-se no limiar entre a arte e o design na construção de uma poética que se perpetua no imaginário de um segmento da população, esta tese realiza uma abordagem da produção visual de Lygia Pape na Piraquê, buscando compreender as características que legitimam a sua potência. Ademais, dado que a atuação da artista no campo do design não costuma receber muito destaque, o estudo procurou apresentar Lygia Pape enquanto designer gráfica, exibindo uma breve amostra de suas realizações no setor, oferecendo, tanto à história do design quanto à memória gráfica brasileira, informações que podem servir como valiosas referências na formação do repertório criativo de futuras gerações de designers. A análise da produção da artista na empresa em questão revelou características importantes no que diz respeito à marca da corporação, bem como aos recursos gráficos dos quais ela lançou mão na concepção dos layouts das embalagens. Pape tinha por hábito trabalhar simultaneamente em várias atividades no âmbito de um mecanismo que encontra um paralelo na natureza interdisciplinar do design. Tal condição pode ter potencializado o trabalho de programação visual da artista na empresa, resultando numa extraordinária coleção de elementos, dotada de uma identidade inconfundível, que leva a marca da sua estética pessoal, evidente na condição longeva da obra, passados mais de 50 anos de sua concepção. A história da produção reforça que a relação que se constrói entre uma marca e seu público é um valor precioso do qual não se pode abrir mão, devendo ser explorado de maneira criteriosa em prol do alcance dos objetivos institucionais da entidade. Pape encarava arte e vida como elementos indissociáveis. A produção visual da artista na Piraquê permanece como um notável testemunho da poética dessa importante mulher, uma das mais relevantes artistas brasileiras.