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Design, política e subjetivação

Tropicuir: estético-políticas transviadas - memória, arquivo, design

Reprodução do prefácio da Prof. Dra Denise Portinari:

A pesquisa de Guilherme Altmayer - publicada agora em forma de livro graças à feliz iniciativa do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, em parceria com a Editora PUC-Rio - representa um marco na construção de um campo ampliado da pesquisa em design. Por isso mesmo, as contribuições dessa pesquisa e os debates que ela instiga colocam em questão as fronteiras desse campo, estendendo-se para os estudos queer e as questões relacionadas à memória, a (in)visibilidade, às práticas curatoriais, as manifestações artísticas LGBTQI+, o ativismo político dos movimentos sociais e a construção de arquivos. Apresentada originalmente como tese de doutorado desenvolvida no âmbito do Laboratório da Representação Sensível, no Programa de Pós-Graduação em Design da PUC-Rio, esta tese-arquivo relata uma trajetória de construção de memórias e visibilidades gênero e sexo dissidentes, através de uma série de ações curatoriais e de práticas estético-políticas.

Trazendo para a cena da pesquisa em Design algumas das mais importantes manifestações LGBTIA+ ocorridas entre os anos conturbados de 2010 a 2019, das quais o autor participou ativamente, como artista-manifestante, como curador e como pesquisador, a tese de Altmayer traz contribuições importantes para a compreensão dessas pautas a partir de uma perspectiva dos estudos em design e sociedade e da curadoria artística, e também para a discussão sobre as estratégias de visibilidade/invisibilidade envolvidas na construção da memória coletiva e na produção de arquivos. Nas palavras do autor, trata-se de “pensar a curadoria e suas viadagens como processos de conformação de redes e agenciamentos coletivos, que dão a ver uma parte do movimento estético-político transviado em curso no Brasil desde a década de 2010”.

Entre as experiências de campo relatadas aqui, já pensadas ao longo de seus processos de elaboração como exercícios de rememoração e de geração de arquivos, o leitor encontrará práticas estético-políticas como a obra realizada em 2016, em parceria com o artista Carlos Motta, intitulada Forma da Liberdade, uma investigação de cronologias e ativismos transviados; as práticas de curadoria ativista e compartilhada na mostra e na série de encontros de Os Corpos são as Obras, realizadas no Espaço Despina em 2017; o relato do processo de construção do movimento NÚvemNEM, com a promoção de um leilão de arte contemporânea durante a mostra Queermuseu, na Escola de Artes Visuais do Par12que Lage em 2018; um levantamento de mostras e encontros coletivos de artes “kuir, cuir, queer, transfeministas, feministas” realizadas nesse período. Trata-se, enfim, de uma pesquisa enraizada no corpo do pesquisador, desde o Guigo da infância inscrita na pixação do muro na pequena cidade de Rio Grande, estendendo-se à diversidade dos corpos envolvidos nas ações e práticas relatadas e analisadas neste livro. Como observa o autor, curadoria, do latim curator, quer dizer aquele que tem cuidado, apreço – mas é “também é uma prática que estabelece hierarquias de poder na organização de idéias e conceitos, que incidem diretamente em regimes de visibilidade, e, portanto, é carregada de responsabilidades éticas e políticas”.

Intensamente corajosa, límpida, envolvente e problematizadora, a prosa deste livro toma o leitor pela mão, com todo o cuidado, levando-nos a rememorar aquilo que talvez nem todos tenham vivenciado, mas que vislumbramos como a lembrança e a promessa da possibilidade de outras formas de existência. Transcorridas em um período que culminou nos horrores políticos e existenciais do presente, as manifestações, ações, práticas e corpos que protagonizam este relato constituem ao mesmo tempo um arquivo vivo do nosso passado recente e um apontamento na direção de um futuro mais interessante, e mais possível para todas e todos.

Denise Portinari