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Design

Atravessar o Presente

“uma volta inesperada do museu e da universidade como possíveis locais de resgate da esfera pública, em que, ao menos em princípio, podem-se expressar críticas e se propor alternativas” - Hal Foster

Atravessar, transpor, rasgar, cortar, varar o presente em movimentos e ações que desestabilizem a lógica perpetrada nas construções de um sistema de poder machista, classista, racista. Redesenhar fronteiras, construir pontes, enxergar nas entrelinhas do presente a possibilidade de expressar críticas e de propor alternativas. Há um papel fundamental que vem sendo retomado por museus e por universidades no resgate da esfera pública. Assim, a exposição Atravessar o Presente, organizada pelo grupo de pesquisa CURA, da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, busca reiterar essa vocação. O objetivo da exposição é situar a ideia de cidade no debate contemporâneo das emergências sociais e de suas relações com a arte, com o design e com a arquitetura a partir de reflexões em que a sociedade seja o foco principal.

Até quando vamos negar aos indígenas o pensamento tecnológico? Como politizar o design em cartazes, mobiliários e produtos? De que modo se pode ampliar os conceitos normativos, incluindo racialidades e gênero? Por que abandonar praças e ruas ao descaso público? Como descentralizar acessos a museus, para além das zonas privilegiadas da cidade? Essas são algumas das perguntas lançadas pela arte e pelos artistas presentes nesta exposição.

A exposição propõe a ocupação dos espaços abertos da universidade com potentes trabalhos que reivindicam e constroem variadas reflexões sobre o direito à cidade, atuando na transformação do presente, encetando um porvir.

Núcleos

CORPOS ANTI(CIS)TÊMICOS

“Para cada pessoa cisgênera que olha para si e se vê como norma, e assim olha o mundo e o vê como espelho, deixo o seguinte recado: nós vamos desnaturalizar sua natureza, quebrar todas as suas réguas e hackear sua informática da dominação.” - Jota Mombaça

Como atravessar o presente? 

Trazendo esse questionamento para o design, interessa aqui desnaturalizar as práticas desse campo, despi-lo de uma suposta neutralidade. A ideia de queerizar o design consiste em desvelar as práticas atuais, abrindo brechas para que sejam repensadas tais práticas pautadas na cisheteronorma; questionar e desconstruir de forma permanente os modos de produção de saberes do corpo na modernidade capitalista neoliberal, onde dispositivos como a sexualidade e o gênero estão a serviço da sua implementação e perpetuação.

É necessário reposicionar os corpos, as subjetividades e as vidas subalternizadas, fora da subalternidade. Para isso, é importante também reposicionar os corpos privilegiados, para que se encerre o ciclo de subalternidade-dominância. 

Atravessar o presente, aqui, significa existir, apropriar-se dos espaços e quebrar o (cis)tema, para que cada vez mais nossos corpos sejam aclamados, não mortos.

Grassine

EXPRESSÃO GRÁFICA E VIDA

No âmbito de desenvolvimentos semióticos, a expressão gráfica atravessou os registros deixados pelos nossos ancestrais, para os modernos sistemas de representação e aplicações na arte.

Ela não se restringe à experiência humana: os animais se comunicam via signos visuais; e, tanto mais se perscruta o universo, mais se tornam conhecidas estruturas que inspiram soluções de design vinculadas à biomimética. 

Expressão gráfica e vida busca compreender essa como um fenômeno atrelado à vida, considerando seus aspectos formais, estéticos e semânticos.

Na exposição Atravessar o presente, o núcleo, sob o conceito de cidade, examina obras como marcas, slogans e fotografias, que, ressignificadas, compõem contranarrativas visuais, gerando reflexões acerca de questões sociais e políticas importantes na atualidade.

André Antônio

MUSEORESISTÊNCIA

Este núcleo expositivo oportuniza o (re)conhecimento de habitats, artefatos físicos e gráfico-visuais significantes da diversidade na adversidade, enquanto manifestações culturais que têm a luta política pela sobrevivência como questão. Pelo acesso à vida digna, o Museu das Remoções e o Museu da Maré expressam o enlace da abordagem da museologia social com as resistências urbanas, em práticas populares insurgentes na zona de contato delimitada pelo conflito entre o direito à moradia e o direito à cidade versus a guerra aos pobres, o racismo estrutural, o empresariamento urbano e demais disjunções históricas e geográficas marcantes da sociedade brasileira. 

Gustavo Cossio

DESOBEDIÊNCIA

Afirmando suas dimensões epistemológica e ontológica, o design é também definido ademais da produção de artefatos: o design é capaz de produzir mundos, diversos modos de existências através de formas distintas de saberes. Diante da irracionalidade do mundo atual — poderes concentrados, degradação do planeta, pós-verdade — e, especificamente, da colonialidade imposta ao Sul Global (onde estamos localizados), marcado por um complexo histórico de luta e emancipação, desobedecer torna-se um indício de resistência e reexistência. O que seria, então, dentro da lógica de ordem e rigor da formação em design, a desobediência? Qual o seu espaço no campo? Assim, sob as lentes sobrepostas da arte, do design e da arquitetura, propomos neste núcleo da exposição um olhar desprendido da razão colonial em direção às ações coletivas que, além de lidarem com as questões urgentes do agora, preparam as pessoas para a produção de uma outra forma de vida, solidária, participativa e comprometida com a pluralidade.

Pamela Marques

INSCRIÇÕES SUBVERSIVAS 

Amar a arte, votar-se ou devotar-se a ela, como se faz aqui, é primeiramente saber que não se deve separar o suporte da obra, que esta não poderia se separar do que parece sustentá-la por baixo, que nós não podemos nos separar disso. (Jacques Derrida).

As inscrições subversivas partem do rompimento com o culto do eu sobre os outros e da aliança ancestral nos seus deslocamentos artísticos. Como ato ou como mote, seguindo os rastros do pensamento derridiano, este núcleo se inscreve na exposição Atravessar o Presente friccionando construídas estruturas.

São pelas margens e fronteiras da linguagem que os inscritos aqui imanentes, criticam criativamente até suas próprias representações. Para cada pintura, fotografia, performance, palavra ou oferenda exposta há uma égide de oposição afetiva, que de forma sutil, prolongada e indissociada, ampara e presentifica semioses com relevante trânsito entre design, arquitetura e sociedade.

Thales Aquino