Canteiro Experimental Aplicado à Arquitetura e ao Urbanismo
Historicamente, o profissional atuante nos domínios da arquitetura e do urbanismo tem experimentado um processo gradual de segregação no âmbito de sua prática. No seu nascedouro, a arquitetura, invariavelmente, se imbricava no ato construtivo. No entanto, ao longo do tempo, testemunha-se a transição gradual da construção para o domínio do desenho, concomitante ao afastamento progressivo do arquiteto das práticas e do saber fazer de quem constrói.
No presente cenário, o profissional de arquitetura e urbanismo, de modo predominante, desempenha suas atividades em escritórios, imerso na elaboração destes intrincados desenhos. Esta dicotomia, já patente no percurso formativo desses profissionais, culmina em um desconhecimento da essência de determinados processos e na desnaturalização da lógica construtiva.
A construção civil, para além de seu distanciamento da prática arquitetônica, propõe replicar os padrões hegemônicos de reprodução do capital, consolidando sua habilidade de cooptação do trabalhador através do canteiro de obras. Atualmente, o labor nos canteiros encontra-se formalmente subsumido ao domínio capitalista. A manufatura, preponderantemente executada nesses espaços, concorre para a perpetuação dessa hierarquia.
Nesse contexto, a proposição dos canteiros visa à "recuperação da vocação pública do arquiteto e urbanista como profissional orientado para a defesa da cidade e da arquitetura como bem comum e direito de todos, enquanto profissional generalista, dotado de uma visão global dos processos de urbanização e inteligência sistêmica integradora de diversas áreas, mantendo um diálogo permanente com cidadãos, usuários e produtores da cidade, suas entidades representativas e movimentos sociais" (ARANTES, SANTOS, 2020).
Segundo Pallasmaa (2011) o “bom arquiteto mantém um diálogo entre as práticas concretas e o pensamento”. Neste sentido, considera-se que os canteiros experimentais emergem como um elemento fundamental na formação de arquitetas e arquitetos.