Projetos

Em busca da cor: construção cromática e linguagem gráfica de rótulos cromolitográficos do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional (1876-1919)
Esta pesquisa trata das estratégias de construção cromática numa técnica de impressão histórica, a cromolitografia, e sua aplicação na produção comercial brasileira. Praticada desde meados do século XIX até a primeira metade do século XX, a cromolitografia antecedeu o processamento fotoquímico da matriz que tornou a separação de cor mecânica e pragmática, com a adoção da quadricromia baseada em síntese de cor subtrativa, ainda em uso atualmente. A cromolitografia se caracterizava, principalmente, pela concepção e conjugação de múltiplas matrizes de litografia num complexo processo empírico de separação manual da cor desenvolvido por um profissional específico: o cromista. Este estudo se inicia numa visão geral do problema, onde situa-se a questão da reprodução de imagens coloridas e, nesse contexto, a técnica cromolitográfica, como foi praticada no mundo e no Brasil. A fim de constituir o objeto de pesquisa, recorreu-se a acervos públicos disponíveis na cidade do Rio de Janeiro Arquivo Nacional e Fundação Biblioteca Nacional. Nessas instituições, os primeiros impressos cromo-litográficos nacionais foram localizados e avaliados, além das coleções de rótulos de produtos brasileiros, onde soluções técnico projetuais elaboradas foram identificadas. O corpus de estudo se estabelece nas coleções de rótulos, com a seleção de um conjunto de 100 impressos produzidos entre 1876-1919, ilustrando uma ampla amostragem de técnicas cromolitográficas. De posse das informações levantadas na pesquisa técnica, são propostos métodos de identificação e análise da composição de cor e técnicas gráficas destas amostras, baseados na observação e registro microscópico. A partir dos resultados desta avaliação, propõe-se uma primeira compreensão técnica e conceitual do material, discutindo relações culturais entre a indústria, o design e o consumo. O resgate deste acervo se situa na área da cultura material, através da pesquisa de efêmeros e investigação das linguagens visuais derivadas de abordagens técnico produtivas. Busca-se contribuir para o campo da história do design brasileiro e sua memória gráfica como área do conhecimento. A tese reúne informações que auxiliam os pesquisadores destas áreas na identificação técnica da cromolitografia e conduz uma reflexão crítica sobre as concepções de cor praticadas na impressão colorida.


A paisagem gráfica de Orlando da Costa Ferreira: reconstruindo a memória do design através da imagem e da letra
Nossa proposta na presente Tese é investigar o acervo de Orlando da Costa Ferreira e entender as possíveis implicações da sua pesquisa no estudo da história do design brasileiro. Esta investigação se deu a partir do processo de resgate, de digitalização, de organização e de investigação dos corpora reunidos pelo bibliólogo. Verificamos que a variedade e a transdisciplinaridade do material evidenciam que Orlando da Costa Ferreira foi um precursor do estudo da Memória gráfica brasileira. Pois, além de analisar o material pela ótica usual do estudo do livro, buscando o conteúdo e as práticas de leitura, o estudioso procurava uma bibliografia descritiva da dimensão material, tecnológica e trabalhista do artefato gráfico. Em paralelo, ao analisar esses corpora, foi ainda possível visualizar um vasto e abrangente panorama histórico que contempla significativas transformações na relação entre o design e a tecnologia na indústria gráfica brasileira, ao longo do século XX. A partir desse panorama, buscamos apontar algumas mudanças que reposicionaram o campo de design na cadeia produtiva da indústria gráfica e as relações entre o design gráfico e os meios de produção da indústria gráfica brasileira dentro de um determinado período. Buscamos ainda aprofundar o estudo das interligações entre o design e a tecnologia, para assim verificar onde, possivelmente, a tecnologia condiciona o projeto e, por outro lado, onde as atividades projetivas podem quebrar paradigmas tecnológicos. Nesse sentido, entendemos que Orlando da Costa Ferreira, ao analisar produtos e processos gráficos dentro dessa perspectiva e com um enfoque em questões materiais que só mais recentemente interessaram aos pesquisadores da área da história do livro, já contribuía para o fortalecimento do campo do design no Brasil, enquanto área de conhecimento próprio, ainda no terceiro quartel do século XX.


Impresso no Pará: 1820-1910 A memória gráfica como composição do espírito de época
Este trabalho tem por objetivo investigar a história do produto impresso no Pará no século XIX. Para tanto, foi realizado o mapeamento das oficinas tipográficas que operaram no período e sua produção. Partiu-se do levantamento bibliográfico sobre o tema e de pesquisas em bibliotecas e arquivos no Rio de Janeiro, Belém e São Paulo, elencando jornais, almanaques, cartazes, cartões postais, impressos oficiais tais como editais, ofícios e relatórios, reunindo material visual relativo ao período. Foram desenvolvidas metodologias para a visualização das questões pertinentes ao material coletado, do qual foram selecionados exemplos relevantes, analisados a partir da sua configuração gráfica. Associando-se aos estudos dedicados à memória gráfica, procurou-se relacionar os temas do design gráfico aos contextos socioeconômicos e à influência da evolução tecnológica na configuração gráfica dos impressos. Foram considerados autores clássicos no campo do design gráfico, como Michael Twyman; estudos em cultura material; e o Capitalismo Tipográfico, desenvolvido por Benedict Anderson. Oficinas tipográficas são empreendimentos industriais capitalistas, logo a atuação dos tipógrafos e os impressos que produzem são fruto de relações sociais e econômicas pertinentes ao momento histórico em que estão inseridos, ao mesmo tempo que contribuem para a construção do espírito de época.
