Os valores do trabalho manual: passado e presente
O estudo se configura como uma investigação sobre o trabalho manual e sua relevância para a história do design. Investigar as interseções de trabalho manual e design abrange diversas possibilidades de enfoque, como: fronteiras fluídas das artes, design e artesanato; de análise da técnica, material e estilo dos artefatos; do papel do designer como projetista e designer-artesão. Pouco se fala de questões sociais, quer dizer, que se relacione com o indivíduo, intrínsecas no fazer manual, que foquem no trabalhador e sua relação com o trabalho. A partir dessa perspectiva, a pesquisa tem como objetivo investigar e mapear as bases valorativas do trabalho manual em dois movimentos da Europa dos séculos XIX e XX até os dias atuais. A escolha para o recorte temporal se deve à importância do Arts and Crafts e Deutscher Werkbund para a formação do pensamento e história do design. O estudo se inicia com um panorama da interseção do trabalho manual e design, a partir da origem da história do design, seguido por breve discussão sobre classificação de design e artesanato, até a exposição de dois movimentos relevantes para o design. O pensamento da época debatia, por exemplo, questões além da estética, mas de cunho social, com relação ao trabalho manual, tais como liberdade de expressão individual do trabalhador, condições de trabalho e organização do trabalho. Com base na revisão de literatura de textos de 1883 a 1929, de pensadores influentes para a história do design que debatiam esses movimentos e o trabalho manual, foi possível mapear e categorizar as temáticas e seus respectivos valores. Em seguida, procedeu-se a uma revisão bibliográfica de autores contemporâneos que tratassem do craft, dos movimentos Arts and Crafts e Deutscher Werkbund, das manualidades e do resgate e valorização das práticas. Por último, foram realizadas entrevistas em profundidade com dez artífices da atualidade a fim de explorar os valores mapeados de antes e levantar novas questões contemporâneas do trabalho manual. Identificamos na conversa com artífices da atualidade: suas experiências, modos de pensamento e pilares no fazer manual. Dentre os achados, destacam-se as temáticas mapeadas nos textos e nas conversas com os artífices; como satisfação e envolvimento com o trabalho, utilidade, felicidade, reconhecimento, expressão da individualidade, ambientes agradáveis, facilitação da máquina, relação da cabeça com as mãos, responsabilidade, mística no fazer, corporalidade, fronteiras fluídas, humanização, preconceito, autoridade e resistência. O artífice contemporâneo expõe sobre sua satisfação com o trabalho seja pela manipulação dos materiais ou pela transformação da matéria-prima em um artefato de qualidade, da relação da cabeça com as mãos por meio de um fazer não dissociado e nem automatizado, se envolvendo naquilo que faz; em que participa tanto do projeto como da execução. Reconhece em seu trabalho sua responsabilidade, seja social ou ambiental, e utilidade de prestar serviço à sociedade. Desfruta de autoestima ao fazer seu ofício artesanal, entende como expressão da individualidade, e enxerga a máquina como facilitadora na produção de formas e materiais inusitados. A pesquisa traça uma ponte da tradição craft ao artífice contemporâneo.
This study is an investigation into craft and its relevance to the history of design. It was researched how intersections of craft and design encompasses diverse possibilities of focus, such as: fluid boundaries of arts, design and crafts; analysis of technique, material and style of the artefacts; the designer's role as a designer and designer-craftsman. Little is said about social issues, which is, what was related to the individual, intrinsic in craft, which focus on the worker and his relationship with his work. From this perspective the research aims to investigate and map the evaluative bases of craft in two European movements, from the 19th and 20th centuries to present days. The choice for this temporal cut is due to the importance of the Arts and Crafts and Deutscher Werkbund for the formation of design thinking and its history. The study begins with an overview of the intersection of craft and design, from the origins of design history followed by a brief discussion of design and craft classification, to the exposition of two movements relevant to design. The way of thinking of that time, for example, issues beyond aesthetics, but of a social nature in relation to craft, such as freedom of individual expression of the worker, working conditions and work organization. Based on the literature reviewed of texts from 1883 to 1929, from influential thinkers in the history of design who debated these movements and craft, it was possible to maping and categorize the themes and their respective values. Then, a bibliographic review was carried out of contemporary authors who dealt with craft - the Arts and Crafts and Deutscher Werkbund movements - manualities and the rescue and valorization of practices. Finally, in-depth interviews were undertaken with ten present-day craftsmen/women in order to explore the values mapped from before and raise new contemporary issues of craft. We identified in the conversation with today's craftsmen: their experiences, ways of thinking and pillars in craft. Among the findings, the themes mapped in the texts, as well as and in the conversations with the craftsmen, these ones stands out: satisfaction and involvement with work, usefulness, joy, recognition, expression of individuality, pleasant environments, machine facilitation, head-to-hand relationship, responsibility, mystique in doing, corporeality, fluid borders, humanization, prejudice, authority and resistance. The contemporary craftsman exposes his or her satisfaction with his work, whether through the manipulation of materials or the transformation of the raw material into a quality artifact, the relationship between the head and the hands through a non-dissociated and not automated doing, getting involved in what he or she does; in which them participates both in the project and in the execution. It recognizes in its work his responsibility, whether social or environmental, and its usefulness in providing service to society. Enjoys self-esteem when doing his craft, understands it as an expression of individuality, and sees the machine as a facilitator in the production of unusual shapes and materials. The research traces a bridge from the craft tradition to the contemporary craftsman.