Lauro Cavalcanti
É arquiteto, antropólogo e escritor. Escreveu vários livros sobre arquitetura, estética e sociedade e organizou diversas coletâneas sobre o assunto. É conselheiro da Casa Lucio Costa e da Fundação Oscar Niemeyer. Membro do conselho editorial do Iphan, é também diretor do Paço Imperial e professor da Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi/Uerj).Possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987) e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1993). Atualmente é técnico em preservação cultural iv do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Teoria da Arquitetura, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura moderna, arquitetura, brasil, artes plásticas e arte.
Na Luta, pela Autonomia: A Inflexão de Aloisio Magalhães na História do Papel Moeda - O Design por trás do Objeto
Este estudo pretende verificar como o saber e o fazer do Design potencializam um determinado setor industrial em benefício de um país, de seu desenvolvimento técnico, de sua economia social e de seu processo cultural. O papel moeda é, em primeiro lugar, o objeto mais massivo que existe (todos temos um no bolso); segundo, é o reflexo da identidade de um país ou região; e terceiro, é um produto altamente complexo do ponto de vista tecnológico e simbólico. A estas três razões para seu estudo soma-se a peculiar trajetória deste produto no Brasil, cuja morosidade foi rompida em 1970 pelo Design, enquanto conceito e metodologia, instrumento e saber, através do talento e da capacidade empreendedora de Aloisio Magalhães. Seus três projetos e sua atuação no setor ao longo de 15 anos levaram o Brasil a um árduo processo de busca e conquista de autonomia, contra forças tradicionalistas conservadoras, internas e externas, neste segmento tão especial e único da produção industrial. No bojo de um empreendimento político, tecnológico e econômico levado a efeito pelo Banco Central e pela Casa da Moeda na década de 1970, em cerca de 10 anos passamos de importador a exportador de papel moeda, com todas as vantagens econômicas e políticas da segunda posição. E mais: esta conquista o designer alcançou inovando na forma, no uso e na tecnologia do produto, mudando radicalmente sua linguagem, e integrando-o à sua época. Este trabalho contrapõe ainda o processo paralelo de um país vizinho, a Argentina, mostrando como eles são autônomos nesse setor desde o século XIX, mas sem a influência direta do Design, como ocorreu no Brasil - apesar da fertilidade do Design argentino. Está em jogo o papel (ou papéis) do designer como articulador da autonomia produtiva, da independência econômica e da identidade cultural de uma comunidade.
A imagem do Rio: de Cidade Maravilhosa a Cidade Olímpica. Análise da construção de representações
Este trabalho trata da construção de representações do Rio de Janeiro, levando- se em conta os possíveis impactos que a perspectiva dos megaeventos que vem ocorrendo na cidade, em especial os Jogos Olímpicos de 2016, podem ter nesse processo. Tem o objetivo de compreender e explicitar os possíveis significados de tais representações. Considerou-se que essa lógica ocorre no contexto das cidades commodities, onde intenciona-se ‘vender' a cidade em um mercado simbólico mundial e assim aquecer o setor de turismo e atrair investimentos. Para tanto, na economia de mercado é necessário desenvolver a marca da cidade, assim como é feito com produtos e empresas, tendo como base as condições e aspectos que são considerados importantes e devem ser ressaltados para fortalecer tal construção simbólica no contexto nacional e internacional. Na realização desse processo são usados ainda aspectos do branding, ou seja, técnicas e estratégias para o gerenciamento da marca, com vistas a promovê-la para que seja compreendida pelo público dentro dos quesitos planejados. Nesse estudo do caso do Rio de Janeiro, no que concerne às possíveis mudanças de percepção promovidas em sua imagem nos últimos anos, e que consequentemente podem afetar sua marca, foram analisados materiais gráficos e de audiovisual de caráter publicitário e turístico, com o objetivo de compreender os discursos sobre a cidade neles apresentados. Alguns deles fazem parte da complexa estruturação da identidade visual dos Jogos do Rio 2016, outros são publicidades de estâncias governamentais, como a Prefeitura e o Governo do Estado, que associam obras urbanas e melhorias nas condições de vida da população ao evento olímpico e divulgam também aspectos importantes para legitimar a realização do mesmo na capital fluminense. Foram analisados ainda publicidades da iniciativa privada que se apropriam de facetas da imagem do Rio de Janeiro e, ainda que não tenham associação direta com as Olimpíadas, acabam por sedimentar também as representações aqui analisadas.
Pioneiros do Design Brasileiro no Projeto de Automóveis
Não se questiona que o design seja um saber naturalmente multidisciplinar. Os projetos da indústria automobilística ilustram esse ponto magistralmente: do ato de inventar à engenharia da produção; do design de exteriores aos interiores; das autopeças às diversas tintas. Projetos desenvolvidos em engenharia simultânea, produzidos em diversos países do mundo e montados onde quer que se mostre mais rentável. A moderna indústria automobilística mostra-se, nesse sentido, global. Mas como harmonizar os gostos e as legislações locais a essa estrutura produtiva internacional? Esta dissertação ilustra alguns aspectos da estratégia de projetos em design automobilístico tomando como base a experiência brasileira. Foram entrevistados os mais destacados designers brasileiros de automóveis dos pioneiros aos mais importantes profissionais contemporâneos. Embora as estratégias das empresas sejam diversas fato que impede uma única conclusão -, esta dissertação lança luzes sobre os desafios do desenvolvimento de projetos automobilísticos onde o projeto é global mas as vendas são locais.
História de Cenografia e Design: a experiência de Helio Eichbauer
Partindo da obra e da experiência do cenógrafo brasileiro Helio Eichbauer, esta dissertação debate os possíveis conceitos e paradigmas do projeto em Cenografia através da história, relacionando a profissão do cenógrafo com a do designer devido às suas características de desenvolvimento de projetos. Trata de uma experiência didática desenvolvida nos anos 1970 no Rio de Janeiro, considerada como uma época de ensino holístico do Design, da Cenografia e das Artes. Finalmente, estuda o caso da cenografia realizada para o espetáculo O rei da vela, de Oswald de Andrade, direção de José Celso Martinez Corrêa, em 1967, mostrando a construção de significado a partir de sua composição espaço-visual.
Fundamentos do Design de Aloísio Magalhães: Design BR 1970
Aloísio Magalhães foi um dos iniciadores do Design brasileiro na prática profissional, no ensino acadêmico, na institucionalização da atividade, e na reflexão sobre sua natureza técnica , e social. O seu projeto para a Petrobrás desenvolvido entre 1970 e 72, realizado por seu escritório no auge da sua carreira como designer, é o melhor testemunho da sua ação nesse campo, pela importância desta companhia para o país, pela abrangência do projeto (do cartão de visita aos tanques de refinarias) metodológica e mesmo lingüística que representou-se podemos estender este termo à linguagem visual. Particularmente disponho de posição única para realizar esta pesquisa, por ter trabalhado grande parte de minha vida profissional com Aloísio, por ter trabalhado especificamente e intensamente neste projeto, e ainda por não ter participado de sua concepção inicial. Além disso, tenho desde então atuado como designer nesta área de distribuição de petróleo, e acumulado informação sobre este mercado ao longo de 3 décadas, o que me ofereceu vasto material de análise. Por isso, embora meu foco seja o projeto de Aloísio e equipe em 1970, para compreende-lo é fundamental analisar o que havia antes e o que veio depois, o que permaneceu do projeto, e o que mudou. Deste estudo tiro 2 conclusões principais: 1) Que o projeto de sistemas gráficos ou de produtos é a forma do designer resolver o paradoxo entre necessidades opostas do processo de design, como a diversidade dos objetos de comunicação visual de uma empresa e sua unidade visual. 2) Que o processo de trabalho de Aloísio Magalhães oferece rico material de análise sobre o processo de Design..