Histórico
A ESDI possui um reconhecido papel na formação superior de profissionais e docentes do campo do design, desde o início de suas atividades, em 1963. Especialmente no âmbito da graduação, essa escola exerceu influência na formação de gerações de designers e professores, assim como serviu de base para os currículos mínimos para os bacharelados de desenho industrial no país (Couto, 2008; Souza, 1996). Enquanto a formação ao nível de pós-graduação não era uma exigência, diversos egressos da ESDI contavam apenas com a graduação na escola para atuarem em diferentes instituições de ensino dispersas pelo território nacional.
1964 - Origens
Contudo, a percepção do campo do design a respeito do pioneirismo e da influência da ESDI sobre a prática profissional e nos cursos de graduação não se refletia de modo equivalente em seu papel na pesquisa e na pós-graduação. Ainda que, em 1964, o primeiro diretor, Flávio de Aquino, tenha concebido, no documento Reformulação de um Programa, a possibilidade de uma pós-graduação aos moldes das universidades europeias (Souza, 1996, p. 111), tal ideia nunca foi colocada em prática. Pelo contrário, o surgimento da pós-graduação na ESDI foi tardio e se efetivou com a abertura do mestrado acadêmico em 2005, ou seja, 42 anos após sua inauguração – acompanhando as primeiras iniciativas de pós-graduação em Design, iniciada no Brasil, em 1994, pela PUC-Rio.
Durante boa parte de sua existência, a ESDI privilegiou a graduação, o que se refletia também no perfil e na atuação do quadro docente, com uma maioria possuindo apenas o título de bacharel, ao passo que atuavam profissionalmente em escritórios e instituições de prestígio em âmbito regional e nacional. Posteriormente, entre as décadas de 1990-2000, se desenvolveu a proposta da criação de um Programa de Pós-Graduação (PPG). Cabe pontuar que, conforme os relatos orais (Seminário…, 2023) de professores presentes naquele momento, a formação de um PPG sofreu objeções por parte dos professores da Escola. Isto ocorreu em um ambiente que, se por um lado buscava incentivar a criticidade e a pesquisa nos trabalhos de graduação, por outro não compreendia a relevância de se organizar um PPG quando o próprio cenário da pesquisa em design era ainda nascente.
Ainda que o percurso da pós-graduação tenha sido controverso e descontínuo, na década de 1990 surgiram duas iniciativas que contribuíram para a consolidação posterior do PPDESDI. A primeira trata da formalização da proposta de um Programa de Pós-Graduação, em 1996, e a segunda é o lançamento, em 1998, da revista Arcos: design, cultura material e visualidade, uma publicação científica que pretendia abordar o design de forma interdisciplinar.
Na primeira proposta para a criação de uma pós-graduação, de 1996, o Programa estaria apoiado em duas ênfases: História e Crítica; e Formas e Tecnologia. Naquele momento, desenhavam-se quatro linhas de pesquisa, a saber: História do Design no Brasil; Imagem e Comunicação; Design e Cultura; e Design e Usuário. A proposta preliminar pretendia a abertura de um Doutorado em Design e foi encaminhada em 1997 à CAPES. Era o resultado de uma comissão constituída para estudar e elaborar um projeto de pós-graduação, acompanhada de um esforço de atrair para a instituição professores com perfil de pesquisadores. Embora tenha sido bem recebida, as considerações feitas pela CAPES não poderiam ser atendidas naquele momento.
1997 - Revista Arcos: design, cultura material e visualidade
A segunda iniciativa, a publicação da revista Arcos: design, cultura material e visualidade, em 1997, revela o esforço de incentivar e divulgar a produção científica no campo do design (Meirelles et al., 2023). A proposta, originalmente de um seminário multidisciplinar, foi sendo discutida e transformada, até tornar-se uma revista acadêmica, para articular questões relativas à cultura material, ao projeto de seus artefatos e da visualidade (Leite, 2009). O próprio nome, Arcos, revela tanto a intenção da construção de pontes interdisciplinares como faz alusão aos Arcos da Lapa, próximos à ESDI. A revista, portanto, antecede o PPDESDI, ainda que ambos tenham resultado de um mesmo esforço.
Para atender às necessidades de um Programa de Pós-Graduação, a Escola precisava atualizar o perfil dos docentes. Portanto, ainda no período da década de 1990, houve um esforço para atrair professores pós-graduados e interessados na pesquisa. Também houve de parte dos professores empenho para se aperfeiçoarem em Programas de Pós-Graduação no Brasil e no exterior. O resultado desses esforços contribuiu para a formação do quadro de professores do PPDESDI.
2005 - programa de Mestrado
A primeira proposta para criação de uma pós-graduação foi então reformulada. A nova proposta objetivou criar um Mestrado em Design, com uma ampla área de concentração (Design), estruturado em três linhas de pesquisa: Design e Tecnologia; Design, Teoria e Crítica e História do Design Brasileiro. Finalmente, o curso se inicia, em 2005 (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2004), sob a coordenação dos professores Guilherme Cunha Lima e Lucy Niemeyer (coordenadora adjunta), sendo o quarto programa acadêmico nessa área implantado no Brasil, após PUC-Rio (1994), UNESP (1999) e UFPE (2003).
A partir daí, a revista foi renomeada para Arcos Design e incorporada ao PPDESDI, e passou do formato impresso para o digital. A incorporação do periódico foi uma decisão estratégica para aproximar o Programa de outras pesquisas no campo, promover o intercâmbio entre pesquisadores na condição de autores e avaliadores, e também como forma de ampliar o debate dentro e fora da instituição.
2013 - programa de Doutorado
O bom desempenho do curso nos seus primeiros anos de funcionamento proveu as bases para que, em 2012 fosse encaminhada à CAPES a proposta de abertura do curso de Doutorado em Design. A proposta foi aprovada e, em março de 2013, abriu-se a primeira turma de doutorandos.
2017 - linhas de pesquisa revisadas
Em 2016, após onze anos de atividades, se deu um redesenho das linhas de pesquisa, diante da entrada de novos docentes e da aposentadoria de outros. Naquele momento, em virtude do perfil docente e da distribuição entre as linhas, as duas linhas de pesquisa de História do Design e Teoria e Crítica do Design acabam sendo fundidas na linha Teoria, Informação, Sociedade e História (TISH), enquanto Design e Tecnologia passa a se denominar Tecnologia, Produto e Inovação (TPI) (Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2017). Essas linhas começaram a operar em 2017.
Contudo, o perfil docente continuou mudando, com novos ingressantes e outros professores em aposentadoria, levando a um desequilíbrio entre as linhas de pesquisa. Se, inicialmente, a distribuição de docentes entre as linhas de pesquisa era equânime, sendo TISH (58%) e TPI (42%), após o início do quadriênio, em 2021, passamos a ter uma relação mais desproporcional, sendo TISH (65%) e TPI (35%). Embora a distribuição de docentes entre as linhas não fosse um problema que por si demandasse uma reformulação, a diferença de concentração também foi um fator para a revisão.
2022 - O desenho do campo
Outra questão, de ordem conceitual, também contribuiu para a mudança das linhas. Em busca de um entendimento mais amplo sobre a pesquisa em design, o PPDESDI assumiu a organização do 14º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, propondo o mote “O desenho do campo”. O tema buscou um olhar para o design como campo, que busca superar a tentativa infrutífera de determinar uma definição única de design.
Organizado em colaboração com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-Rio), o P&D Design 2022 buscou identificar e delinear o perfil das pesquisas em design no Brasil. Para além da organização, o evento contou com participação substantiva de trabalhos do PPDESDI, totalizando 42 submissões aprovadas e 10 trabalhos que integraram o conjunto de artigos selecionados publicados em periódicos. Portanto, entendemos que a organização e participação no evento nos permitiram um olhar atento para a produção de pesquisa em design, no geral, mas também para nossa própria produção.
Dessa feita, as reflexões provocadas pelo P&D 2022, a renovação do corpo docente do PPDESDI nos primeiros anos da década de 2020, bem como os resultados do ciclo de avaliação que apontavam para a necessidade de revisão das linhas de pesquisa nos levaram a reflexões importantes a partir de questões levantadas pela CAPES (2019), como “Há organicidade no Programa? O Programa está pulverizado em termos de pesquisa?”
2022 - Auto-avaliação
Em 2022 é criada a comissão de autoavaliação, que inicia os trabalhos de criação de processos internos de autoavaliação do Programa e que busca responder a necessidades de melhorias e avanços, entre eles a redistribuição das linhas de pesquisa.
Em 2023, a partir de um amplo processo de autoavaliação, em reuniões com ampla participação do colegiado, foi realizado um processo de revisão das linhas de pesquisa, on intuito de responder a renovação do corpo docente e as dinâmicas do campo do Design.
A participação discente foi primordial neste processo, através de encontros de pleno e disciplinas focadas na gestão acadêmica, ocasião em que se realiza um levantamento aprofundado das pesquisas desenvolvidas no Programa.
2024 - O desenho dos próximos 20 anos
Entra em vigor a nova área de concentração: Design, tecnologia e sociedade, e quatro novas linhas de pesquisa:
1. Design, Territorialidades e Antropoceno
2. Design, Política e Subjetivação
4. Design, Cultura e Visualidade
Para compreender a nova divisão das linhas de pesquisa, não se deve tomar cada linha como uma delimitação exclusiva de temas, mas como um direcionamento que concentra esforços sem excluir a possibilidade de pesquisas interdisciplinares. Da mesma forma, palavras chave como "teoria" e "história" deixam de ser usadas como definidores de linhas de pesquisa, baseados na premissa de que todas as linhas produzem reflexão teórica e podem narrar histórias do design a partir de diversas perspectivas. Em contrapartida, "tecnologia" e "sociedade" se tornam termos guarda-chuva que, em relação ao design, configuram a nova área de concentração do PPDESDI: Design, Tecnologia e Sociedade, substituindo a anterior – Design.
Foi somente através da coletivização das decisões, em comissões com ampla participação docente e discente, e em sala de aula – espaço para questionamentos, em um trabalho continuado para garantir transparência nos processos, que foi possível chegar a esses resultados, que entendemos abrir caminho para os próximos 20 anos de pesquisa em design na ESDI e para além.
Referências bibliográficas
COUTO, Rita Maria de Souza. Escritos sobre ensino de Design no Brasil. Rio de Janeiro: RioBooks, 2008.
LEITE, João de Souza. Apresentação: Longa vida. Arcos Design, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, 2009. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/arcosdesign/article/view/82472>. Acesso em: 12 set. 2024.
SEMINÁRIO Revista Arcos Design 25 anos – Mesa 1. Realização do PPDESDI. Rio de Janeiro: ESDI, 2023. (112 min.), son., color. Disponível em: <https://youtu.be/LRewpJsJhZU>. Acesso em: 12 set. 2024.
SOUZA, Pedro Luiz Pereira de. Esdi: Biografia de uma ideia. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1996.