Atos cotidianos de design
Neste livro, Zoy Anastassakis e Marcos Martins narram experiências e histórias que viveram durante um período de grave crise que atingiu a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) nos anos de 2016 e 2017. São histórias nas quais os autores trabalharam muito de perto com outras pessoas que compõem a comunidade da Escola Superior de Desenho Industrial da UERJ. São histórias, por exemplo, de servidores e professores compartilhando com estudantes e ex-alunos a responsabilidade pela gestão da escola. Histórias de estudantes racializados sentindo-se deslocados ao se depararem com uma escola de design marcada por uma tradição fortemente eurocentrada. Histórias de grandes sacrifícios feitos por estudantes oriundos de famílias com renda precarizada que insistiram em concluir um curso superior contra todas as probabilidades. Estudantes negros encontram pesquisadores e artistas indígenas e encontram afinidades surpreendentes. Essas e outras histórias nos ajudam a reposicionar e repensar as tradições sobre as quais foi fundada a ESDI, o primeiro curso superior de design do Brasil (e do mundo lusófono). Ao contar essas histórias, os autores mostram e registram movimentos nos quais a escola, assim como, mais amplamente, o campo do design, são desafiados a se transformar diante de situações inusitadas e desafiadoras.
Entre 2016 e 2017, tanto a UERJ quanto a ESDI estiveram ameaçadas de fechamento devido aos cortes orçamentários em seu único financiador, o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Na UERJ, as aulas foram suspensas, salários e bolsas foram pagos de forma intermitente, e o fornecimento de materiais e serviços para garantir a integridade física dos campi foi interrompido. Na ESDI, como reação a essa crise, começaram a ocorrer atividades atípicas de troca de conhecimento e experiências incomuns de gestão. Essas atividades e experiências reuniram gestores, estudantes, ex-alunos, professores, técnicos-administrativos e amigos da escola em um esforço coletivo para manter a ESDI aberta e viva. Entre essas atividades, podemos mencionar mutirões de limpeza para remover pilhas de lixo acumulado; cursos de um dia; um laboratório de design para agricultura urbana; uma oficina de impressão gerida coletivamente, entre muitas outras.