Codesign como compostagem com uma comunidade agroeco-lógica na Serra da Misericórdia, Rio de Janeiro
Esta tese de doutorado tem como objetivo analisar o lugar do designer no desenvolvimento de uma rede de agricultores na Serra da Misericórdia, Rio de Janeiro. Pretende-se entender qual o papel do designer e como ele articula o seu conhecimento projetual especializado e como a sua experiência contribui para a criação dessa rede. A pesquisa acompanha a formação de uma rede de agricultores na Serra da Misericórdia, chamada “Arranjo Local Penha”, e como ela se projeta em mundos alternativos agroecológicos, de bem viver, relacionais e participativos. Esta tese é principalmente elaborada a partir das experiências de campo na Serra da Misericórdia durante os anos de 2017 a 2021 e tem como base teórica o trabalho do antropólogo Arturo Escobar, sobretudo sua pesquisa sobre autonomia e design como caminho para alcançar pluriversos. No capítulo 1, apresento a minha trajetória, desenvolvo a ideia de agricultura urbana para além do plantar, sobre o que é sustentabilidade, por que essa noção continua atrelada ao desenvolvimentismo e discuto algumas possibilidades de sustentabilidade com envolvimento a partir das noções de bem viver, design para autonomia e para transição, design participativo, pesquisas já realizadas em favelas do Rio de Janeiro e como as linhas do making podem enlaçar as lutas do commoning. No capítulo 2, começo a descrever a minha aproximação e os primeiros experimentos na Serra da Misericórdia. Apresento o que é a Serra da Misericórdia e quais significados e representações ela adquire para os grupos ambientais que a protegem e como estes se formam ambientalistas, destacando a luta da organização não governamental, a ONG CEM. O CEM foi um dos organizadores do Arranjo Local Penha, rede de parceiros que mobiliza a agricultura urbana para a promoção da soberania alimentar na Penha. A partir de Escobar, analiso tanto na construção da Serra da Misericórdia como do Arranjo Local Penha, como as comunidades fazem design de si um fazer em rede, nunca isolado. Mais do que uma comunidade, uma unidade comum, um composto em redes instáveis que se fazem e refazem e viram juntas outra coisa muito fértil. No capítulo 3, abordo a minha participação na terceira fase do Arranjo Local Penha, na qual será formada uma rede de agricultores produtores de mudas de plantas na Serra da Misericórdia. Apresento a proposta do projeto que foi submetida a um edital de financiamento da Faperj e que viabilizou a realização da rede. Do desenho do projeto para sua realização, a rede foi atravessada por questões locais, do território e dos seus habitantes, e globais, como a pandemia de Covid-19. No andamento desse processo, meus colegas e eu aprendemos ver os problemas como parte do trabalho e não como obstáculos. Mas, para isso acontecer, nossa ação demandou um grande envolvimento, um fazer parte dessa comunidade/composto. Por fim, proponho que o codesign que realizamos assemelhou-se ao processo de compostagem.
This doctoral thesis aims to analyze the role of the designer in the development of a farmer's network at Serra da Misericórdia, Rio de Janeiro. It is intended to understand the role of the designer and how they articulate their specialized design knowledge and how their experience contributes to the creation of this network. The research follows the formation of a network of farmers in Serra da Misericórdia, called “Arranjo Local Penha”, and how it projects itself in alternative agroecological, "bem viver", relational and participatory worlds. This thesis is mainly elaborated from field experiences in Serra da Misericórdia during the years 2017 to 2021 and is theoretically based on the work of the anthropologist, Arturo Escobar, especially his research on autonomy and design as a way to reach pluriverses. In chapter 1, I present my trajectory, I develop the idea of urban agriculture in addition to planting, about what sustainability is, why this notion remains linked to developmentalism and I discuss some possibilities of sustainability with involvement from the notions of "bem viver", design for autonomy and transition, participatory design and research already carried out in favelas in Rio de Janeiro, and how the lines of making can link the struggles of commoning. In chapter 2, I begin to describe my approach and the first experiments in Serra da Misericórdia. I present what Serra da Misericórdia is and what meanings and representations it acquires for the environmental groups that protect it and how they form environmentalists, highlighting the struggle of the non-governmental organization, the NGO CEM. CEM was one of the organizers of Arranjo Local Penha, a network of partners that mobilizes urban agriculture to promote food sovereignty in Penha. Based on Escobar, I analyze both in the construction of Serra da Misericórdia and the Arranjo Local Penha, how communities design themselves, a work in a network, never isolated. More than a community, a common unit, a compound in unstable networks is made and remade and become together another very fertile thing. In chapter 3, I discuss my participation in the third phase of the Arranjo Local Penha, in which a network of farmers producing seedlings in Serra da Misericórdia will be formed. I present the project proposal that was submitted to a financing notice from Faperj and that made the realization of the network possible. From the design of the project to its realization, the network was crossed by local issues, the territory and its inhabitants, and global issues, such as the Covid-19 pandemic. During this process, my colleagues and I learned to see the problems as part of the work and not as obstacles. But for that to happen, our action required a great deal of involvement, to be part of this community/compost. Finally, I propose that the co-design we carried out resembled the composting process.